O que faz uma Professora de Nutrição Clínica? – com Roseli Sanches

Entrevista 17 -04/08/2015

04/08/2015 22h00 (GMT -3)

 

Professora de Nutrição Clínica
Orienta a população a se alimentar corretamente iniciando desde o nascimento. 

Meu nome é Roseli Sanches Hauch. Eu sou do ABC [Paulista], nasci em São Paulo; e eu atuo na área de ensino há 33 anos.

[Escolha profissional]
Eu acho que vocação, Alan. Desde pequena a minha brincadeira predileta, até comentei isso uma vez na turma da Bianca, que a minha brincadeira predileta era de dar aula. Os meus primos, quando iam em casa, eu tinha lá um armário de madeira e a porta desse armário funcionava como sendo uma lousa para mim, então acho que está no sangue mesmo: a minha mãe é Professora, então acho que passou isso também de geração.

[Função]
Bom, ele passa toda a parte de princípios básicos a respeito de alimentação, de Nutrição, para visar uma alimentação equilibrada, evitando assim as doenças crônicas, como obesidade, hipertensão, para que esses alunos possam ser multiplicadores dessas informações no mercado de trabalho.

Tem muita gente que, às vezes, pergunta: “Ah! Você é Nutricionista, mas você só dá aula?”, então esse “só dar aula” eu acho estranho, muitas vezes, porque isso mostra que a pessoa não tem muito conhecimento da rotina de um Professor, porque para você assumir uma sala de aula, envolve toda uma preparação. Hoje nós estamos aqui para estar fazendo um planejamento do próximo semestre, que inicia na segunda-feira, as nossas aulas. E, esse planejamento envolve pesquisa de atualização, o que aconteceu? O que tem de novo dentro do componente que você vai ministrar? Então você tem toda preparação de aula, não só o conteúdo que vai ser exposto, como atividades que você vai trabalhar com o aluno em sala de aula, às vezes, um vídeo que você precisa complementar aquele assunto; exercícios que você passa durante a aula e muitas vezes a correção desses exercícios se dá em casa. Então você tem o trabalho antes da aula, durante a aula e após a aula.

[Formação]
Bom, eu comecei fazendo um curso Técnico de Nutrição, como a Bianca fez, um curso de 4 anos, e foi exatamente na época do curso que eu me apaixonei pela Nutrição. Eu sempre gostei da área de ensino, achava que seria difícil eu poder associar as duas áreas: Nutrição e lecionar em Nutrição, porque eram poucos os lugares em que você tinha o curso de Nutrição acontecendo. Hoje, o mercado de trabalho está muito amplo, você tem inúmeras faculdades na área de Nutrição, assim como também as escolas técnicas cresceram e se multiplicaram com uma rapidez muito acelerada, né?! E aí eu resolvi fazer Letras, porque eu também gostava da área de português, inglês. E achei que fosse mais fácil para conciliar a área do ensino com outra área que eu também gostava. E, quando eu estava finalizando a faculdade de português e inglês, eu prestei um concurso aqui para a Etec Júlio de Mesquita, fui aprovada e, depois que eu terminei a faculdade, eu resolvi que era, realmente, Nutrição que eu queria seguir e não mais o português. E então eu fui fazer a Nutrição no curso superior, a graduação, só que a faculdade de Nutrição não te prepara para área acadêmica, então a parte didática, toda a parte de pedagogia faltava como Nutricionista e a partir daí eu fiz uma licenciatura específica para a área de Nutrição, que é um curso que nós temos, que o Centro Paula Souza oferece, ministrado por algumas instituições, que é o curso de formação profissional da parte pedagógica específica para a área.

[Formação]
Quando a gente fala de Advogado que atua na área criminal, na verdade o Advogado quando presta o Exame da Ordem, que é a certificação para que ele possa advogar, ele não precisa, necessariamente, escolher uma área de atuação, assim como Médico, ele pode escolher trabalhar na área cível, na área trabalhista, mas sempre as pessoas buscam ou fazer o que mais gostam, ou no início de carreira fazer o que mais aparece de casos, ou então até mesmo aquilo que, aparentemente, lhe traga mais remuneração. Mas, para ser Advogado Criminal, a pessoa não precisa de nenhuma circunstância em específico, a não ser já ser Advogado com o Exame de Ordem que condiciona essa carteira para habilitar o Advogado a trabalhar.

[Experiência necessária]
Acho que você tem que sentir também, muitas vezes, no lugar do outro, né?! Se colocar no lugar do outro, procurar ser amigo desse aluno também. Eu acho que essa possibilidade que a profissão me ofereceu de ter um contato mais próximo com as pessoas, com os alunos, eu considero um presente esse convívio, porque são pessoas que entraram na minha vida , que eu posso colaborar na formação deles, mas que eles também me oferecem muito, na minha construção pessoal.

[Perfil do profissional]
Olha, eu acredito que  é importante a organização, porque você precisa de um planejamento. Você não pode, simplesmente, chegar numa sala de aula e, no momento que você entra: “Ah, o que eu vou fazer nesses cinquenta minutos que eu tenho com os alunos ou, às vezes, um pouco mais?”. Você tem aula, às vezes, duas, três aulas seguidas. Então não é nesse momento que você pisa na sala de aula que você vai pensar no que vai ser trabalhado com os alunos. Então planejamento, organização, é fundamental para o Professor.

[Profissional bem-sucedido]
Acho que o mais importante, Alan, é você gostar do que você faz. Acho que, a partir do momento que você se identifica naquela atividade, você faz por amor e você faz bem feito o seu trabalho. Você acaba atingindo aí o seu objetivo, que é de passar a informação para o seu aluno. Eu lembro de uma frase, da Madre Teresa de Calcutá, que ela dizia que você não precisa fazer grandes coisas, mas pequenas coisas com muito amor, com grande amor. Acho que é mais ou menos nesse sentido, né?! É gostar do que faz.

[Inspiração profissional]
Olha, eu acho que a minha primeira inspiração foi a minha mãe, porque já trabalhava na área de ensino e me passou valores de vida e valores em relação à profissão. E eu tive outras Professoras também, apaixonadas pelo o que desenvolve e acho que essa simpatia acabou colaborando.

[Diferença de ensinos: Técnico e Superior]
Olha, tem diferença de perfil profissional: o Técnico ele trabalha mais com o coletivo, o Nutricionista trabalha mais com o individual. A questão da faixa etária que você mesmo coloca que já gera também uma diferença. O Técnico, hoje nós temos o curso técnico oferecido de uma forma integral, integrado ao Ensino Médio, que os alunos entram no curso com 15 anos, em média, 14, 15 anos, são muito imaturos. Muitas vezes, não sabem ainda o que querem. Escolheram Nutrição, às vezes, por falta de opção ou porque achou que o nome daquele curso se identificou mais. Então, essa questão da faixa etária, da imaturidade que é completamente natural, difere um pouquinho sim. O profissional no 3º grau, que ele já tem uma maturidade maior, ele sabe, realmente, que aquela é a profissão dele para a vida, acho que ele tem um foco diferente, o interesse passa a ser maior.

Na graduação eu tenho, basicamente, 50%, 60% das turmas, que são Técnicos em Nutrição, então eles já tiveram uma vivência no mercado de trabalho, tiveram a certeza que é isso que querem e aí eles vão partir para a faculdade, no 3º grau. Então eu acho que é essa questão da maturidade também para esses alunos.

[Análise da trajetória profissional]
Eu acho que eu estudaria talvez um pouco mais, porque também tive uma fase de dispersão, talvez não tivesse aproveitado muito as oportunidades que eu tive, até pela questão da imaturidade, então talvez um aproveitamento maior.

[Perspectiva da profissão]
Eu espero que mais valorizado, né?! Porque, infelizmente, a área de ensino o nosso país não reconhece muito o papel do Professor e é essencial, porque todas as outras profissões tiveram o Professor aí fazendo parte da formação daquele Médico, do Advogado, do Dentista e assim por diante. Então, eu espero que os nossos governantes valorizem um pouco mais esse profissional.

[Remuneração]
Existem diferenças também de uma instituição para outra, né?! Na parte do ensino técnico a faixa inicial eu acredito que esteja em torno de R$17 a hora/aula. São 37 aulas semanais que o Professor pode ministrar.

[O profissional na sociedade]
Bom, todo mundo se alimenta, mas nem sempre as pessoas escolhem os alimentos de uma forma adequada, então eu acredito que a formação de profissionais técnicos, Nutricionista, é no sentido de orientar a população a se alimentar corretamente iniciando desde o nascimento. Então as mães precisam resgatar a importância do aleitamento materno.

Hoje fala-se muito no impacto dos mil dias, nos primeiros anos de vida dessa criança, que vai desde o período gestacional até os dois primeiros anos de vida dessa criança. É, exatamente, o momento em que você está formando o paladar, então o profissional que orienta bem uma mãe, uma gestante, e essa gestante aplica isso na vida dela e na vida dos filhos, ela vai colher lá na frente saúde e qualidade de vida, ela vai evitar aí uma série de doenças que hoje se fala muito em obesidade infantil, você tem crianças hipertensas, crianças com colesterol elevado, são situações que quando eu estava na minha fase da infância não se ouvia falar em hipertensão em criança, em obesidade infantil, então as pessoas precisam resgatar algo que, infelizmente, perdeu-se no tempo. Você tem um avanço tecnológico muito grande, mas perde-se em qualidade. Então ensinar Nutrição para um grupo de pessoas, essas pessoas, esses quarenta alunos que eu tenho em uma sala, eles vão aplicar isso em casa e vão ser multiplicadores dessas informações. Então é assim: é uma sementinha que você está plantando e olha o número de pessoas que vão multiplicar essas informações.

[Indicação de leitura – Confira em: www.goodreads.com/grupoitos ]
Bom, na área de nutrição, eu procuro livros que sejam mais direcionados ao conteúdo que eu trabalho em sala de aula. Eu trabalho mais a parte da nutrição clínica, então os livros são mais voltados nessa parte, na conduta nutricional para hipertensão, diabetes, obesidade e assim por diante, é um conteúdo mais técnico. Mas, um livro que eu sempre recomendo, muitas vezes, até para alunos, é “A última grande lição”, eu não lembro o nome do autor no momento, mas ele é um livro que retrata uma situação, um caso verídico, de um rapaz que encontra um ex Professor e aquele Professor foi muito importante no momento da vida dele, o Professor estava com uma doença terminal e ele, durante sete semanas, vai visitar esse Professor numa cidade próxima, uma vez na semana, então são praticamente sete encontros e em cada encontro eles trabalham um tema: eles abordam compaixão, respeito, família, envelhecer… Então, para mim, esse livro é uma lição de vida. Eu sempre recomendo para as pessoas essa leitura. Vale muito a pena.

[Mensagem Final]
Olha, acho que em primeiro lugar, você tem que gostar do que você faz. Eu não consigo imaginar uma pessoa trabalhando oito horas, pelo menos, em uma determinada área e que não tenha paixão pelo o que faz. Eu acho que deve ser extremamente entediante um profissional que faz alguma coisa por obrigação. Eu sempre comento também, em sala de aula, com os alunos, que existem dois profissionais em todas as áreas: aquele que faz o seu trabalho porque ama o que faz e aquele que faz porque precisa pagar as contas no final do mês. Então, em primeiro lugar, é se encontrar na vida. O que te dá prazer? O que é que você gosta de fazer? Eu acho que esse é o primeiro passo. A partir do momento que você responde isso para você mesmo, você vai encontrar aquilo que você quer fazer.

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