O que faz uma Ginecologista e Obstetra? – com Stefanie Castro

Entrevista 29 – 28/01/2016

28/01/2016 15h00 (GMT -3)

 

Ginecologista e Obstetra

 

Eu sou Stefanie Castro, eu tenho 30 anos, eu atuo na profissão há 6 anos, sou Médica Ginecologista e Obstetra, e eu trabalho em Santo André/SP.

[Escolha Profissional]
Primeiro, eu escolhi ser Médica e ainda não sabia que eu queria ser Ginecologista. Mas eu escolhi ser Médica porque eu sempre quis ajudar os outros para poder fazer a diferença de alguma forma e achei que ajudar os outros na área da saúde seria uma boa opção. Só depois que eu fui escolher ginecologia obstetrícia porque o que eu aprendi e o que eu vi, durante a faculdade, eu vi que era o que mais me completava, pois tem a parte clinica, a parte cirúrgica e a parte de parto que, para quem gosta, é muito bonito.

[Função]
A função do Ginecologista é atender a mulher em tudo que ela precisar. Pode ser na parte endocrinológica que você precisa ver os hormônios da mulher, pode ser na parte cirúrgica, pode ser nos extremos, como câncer, de parto. A pessoa tem que atender a mulher como um todo.

[Atividades diárias]
A rotina é bem corrida. Porque, normalmente, a gente não trabalha num lugar só. De manhã, eu trabalho no hospital; no almoço eu tenho que passar visita nas pacientes que eu operei; a tarde eu venho no consultório atender as pacientes. Então é bem corrido.

[Formação]
Para ser Ginecologista você precisa primeiro fazer 6 anos de faculdade de medicina, depois você presta uma prova para entrar na residência, na residência de Ginecologia e Obstetrícia, que são juntas, por 3 anos. E, depois se você quiser fazer uma especialidade dentro da ginecologia obstetrícia você pode fazer. Eu acabei escolhendo fazer Endoscopia Ginecológica, então eu mexo um pouquinho mais com cirurgia. E, no meu caso, foi um ano de curso. Tem gente que faz dois anos de medicina fetal, depende a especialidade dentro da ginecologia obstetrícia que você vai querer fazer.

[Perfil profissional]
Na obstetrícia, a pessoa precisa ser ágil. Ela tem que ter o raciocínio rápido porque as coisas mudam muito rápidas. Pode estar indo tudo bem num parto e de repente, no fim, aconteça alguma coisa que você tem que pensar logo e resolver logo, senão acaba acontecendo alguma desgraça. Mas a pessoa tem que ser então: ágil, na minha opinião, tem que ser bem racional, porque não pode, na hora do problema, começar a chorar, você tem que resolver o problema e, além disso, tem que conseguir ser humanizado, né?! Porque você tem que saber, entender que a pessoa que está na sua frente é um ser humano, não é só uma doença. A pessoa tem que ser, eu pelo menos penso que quem está na minha frente podia ser a minha mãe, podia ser a minha irmã. Ela é mãe de alguém, ela é filha de alguém, então tem que ser humanizado além de ser racional e ágil.

[Profissional bem-sucedido]
Eu acho que para você poder se destacar no que você faz, além de gostar do que faz, é conseguir se pôr no quadro da paciente. Entender o que está passando na vida dela, porque a vida dela não tem nada a ver com a minha em relação à ética, ao que aprendeu, o que passou. Eu não posso passar a vida dela para os meus padrões. Eu tenho que entender o que está passado com ela, para depois eu entender como é que eu vou conseguir ajudar. Então acho que é isso: você ver a pessoa como ela e conseguir agir na área dela, não puxar ela para a sua área.

[Inspiração profissional]
Depois que eu entrei na faculdade, que eu conheci um monte de tipos de médicos, hoje, quem me inspira é um médico que é o Dr Luis Kunniyoshi que ele é muito bom, ele opera bem, ele atende bem e ele é humilde. Para mim o que é mais importante é ser humilde, porque não adianta você ser muito bom, eu conheço gente que opera super bem, mas é arrogante. Você não vai atender a paciente como ela precisa. Então eu acho que todo mundo que acaba sendo humilde, às vezes não precisa ser o melhor  ou aquele que opera mais bonito, mas se a pessoa faz a parte que precisa fazer e ela é humilde, são pessoas que eu gostaria de ser igual.

[Análise da trajetória profissional]
No começo, quando você está na residência ainda, você sempre tem alguém olhando por você, te auxiliando. Você nunca está sozinho. Eu acho que o que dá mais preocupação é na hora que você acaba a residência, você está ali no mundo e é você quem vai ter que atender a paciente, você que vai ter que medicar, e não tem ninguém para você perguntar. Então, o que eu sempre falo para as pessoas que estão começando e que eu já ouvi também, é que vai dar certo, você tem a bagagem, você já tem o conhecimento.  Não precisa ter medo de conversar com a paciente que está na nossa frente. Às vezes, a consulta é só conversar, a paciente precisa falar e escutar, não precisava nem de remédio. E você já tem essa estrutura para poder atender alguém, para ajudar alguém e não precisa ficar preocupado de, na hora, você não saber o que fazer, porque você vai saber o que fazer.

[Remuneração]
Não tem um valor padrão. Depende muito do que você escolhe fazer. Então, a gente começa ganhando bem porque você acaba fazendo bastante plantão e o que paga bem hoje em dia é o plantão, porque você se sacrifica, porque você não dorme, porque você atende um monte de paciente sem conhecer, então pode vir qualquer coisa no pronto socorro e você tem que saber lidar com aquela situação. Então por ser mais sacrificante o pessoal paga mais porque nem todo mundo quer fazer. Conforme você vai ficando mais velho, você já não tem tanta saúde para ficar passando noites acordado. Então no começo a gente demora para ganhar dinheiro, porque nos seis anos da faculdade você não ganha nada, e na hora que você começa a ganhar, você começa a ganhar bem porque você faz mais plantão, porque você está mais disposto a dar mais plantão. Mas acho que no começo, dependendo se você vai fazer consultório ou você vai fazer posto, se for um posto de saúde, por exemplo, você vai ganhar uns R$3 mil, R$3.500,00. Mas, consultório, vai depender do número de consultas que você vai dar. Uma consulta sai por uns R$40, se você atende pelo convênio. Em compensação, o plantão, em 12 horas você ganha R$800. Então vai mexer conforme o que você vai querer fazer.

[O profissional na sociedade]
Eu acho que o nosso papel na sociedade é auxiliar a mulher, no caso, porque é ginecologia obstetrícia. Mas, auxiliar a mulher : ajuda você a ganhar bebê, ajuda você tratar a sua doença, ajuda você morrer bem, de repente. Mas só auxiliando mesmo.

[Pontos negativos]
Um principal ponto negativo, que é um dos melhores pontos, é trabalhar com pessoas. Porque as pessoas são difíceis. Como a gente já conversou, você tem que entender o que a pessoa está passando para você poder assimilar isso e aceitar. Mas, às vezes, vem uma vez a pessoa num plantão e você não consegue entender o que está acontecendo com ela. Ela já chega com uma carga ruim de antes e quer te cobrar para você resolver aquele problema na hora. Então ela também não entende que você está conhecendo ela agora, ela quer cobrar, ela pode ser mal educada, ela pode te ameaçar. Você foi lá atender a gestante no plantão, e a pessoa já chega e fala “se acontecer alguma coisa com meu filho você vai ver!”, e aí você pensa que eu não saí de casa para fazer mal para alguém, eu não estudei para fazer mal para alguém, eu estudei para poder ver se eu acho que aquele bebê está bem, então ele provavelmente está, porque a gente se baseou em outras coisas, mas ficar ameaçando é difícil. Isso é bem difícil, de trabalhar com pessoas que, às vezes, elas estão passando por uma situação ruim e ela tem ansiedade, tem medo, tem um monte de coisa em cima envolvida, então isso é bem difícil.

E o difícil também é que, às vezes, você tem que abrir mão da sua própria saúde, principalmente na residência, mas depois você consegue se controlar, arrumar os seus horários. Mas, às vezes, você tem que abri mão de uma família, de feriado, sair com o marido, com o namorado, com a mãe, com o irmão. Às vezes você tem um aniversário, mas você está de plantão. Às vezes você saiu, foi para um jantar e alguém entrou em trabalho de parto. Então você tem que abrir mão de algumas coisas do seu dia-a-dia para poder ir cuidar de uma paciente que não é da sua família, mas é sua paciente. Então eu acho que essas duas coisas são as mais difíceis.

[Pontos positivos]
Os pontos positivos é que é totalmente gratificante quando você vê que você fez a diferença, que você ajudou. Às vezes, é só conversar que você ajudou. Você viu que aquela pessoa estava indo para um caminho e de repente ela melhorou muito e ela vai estar querendo seguir para um caminho melhor, só de eu pensar que aquela “vidinha” já mudou, já está ótimo, eu fiz a diferença. Eu vim com a minha “vidinha” e consegui ajudar a vida da outra pessoa; o parto também é gratificante quando você vê, é mais concreto, né?! A hora que você vê o bebê, vê que você ajudou a mulher, que você acertou para corrigir algumas coisas que estavam erradas no trabalho de parto, é muito gratificante. Mas eu acho que, na parte do consultório mesmo, é isso, é você ver que conseguiu fazer a pessoa pensar por um caminho melhor e seguir um caminho melhor.

[Indicação de leitura – Confira em: goodreads.com/grupoitos ]
Têm alguns livros de obstetrícia e ginecologia que não sei se o pessoal vai ler, mas é o Tratado de Obstetrícia do Zugaib é excelente, eu leio bastante, e o Crisp que é um livro de endoscopia ginecológica que eu também tive que ler e leio bastante, porque tem muito a ver com a minha profissão, mas acho que, para as pessoas lerem, um livro muito bom é o Saúde Emocional do Osho, ele mostra como as pessoas podem adoecer a partir da emoção. Essa é outra área que eu gosto, que eu vou estudar um pouquinho mais, que é a parte da medicina oriental, acupuntura, que eles sabem que a doença vem a partir do que acontece, de como você encara os fatos, das suas emoções, para depois desencadear uma doença orgânica, física, que é o que a medicina ocidental estuda, ela estuda a doença mesmo, palpável, não o antes. Então eu gosto muito e acho que Saúde Emocional é muito bom. Para quem quer prestar Medicina, um livro ótimo que eu li chama Médicos, Santos Médicos que falam de santos que eram médicos e médicos muito bons que podiam ser considerados santos. Então para quem quer prestar eu acho que é um embalo, um apoio. E, um livro que eu gosto muito, é o Diário da Anne Frank, que aí não tem nada a ver com a medicina, mas que mostra uma menina que era totalmente mimada, ela era criança, mas que vivia no mundinho dela e em dois anos ela evoluiu de uma forma que ela chegou num ponto que, hoje, se tem pessoas de 30, 40 anos, não sabem dar valor para a vida como ela deu, igual ela cita no livro, que ela dpa valor para coisas que realmente importam e nada do que a gente se preocupa de dinheiro, de sucesso, que no fim das contas não vai te levar para lugar nenhum, né?!

[Mensagem Final]
Eu acho que quem quer prestar medicina e ser ginecologista, precisa ter certeza, ver o que a gente faz, para ter certeza mesmo e que é sacrificante, você vai abrir mão de um monte de coisa, mas é ótimo. Compensa muito. Eu sou muito completa, eu gosto muito do que eu faço, então eu não tenho dúvidas de nada. No começo eu tinha dúvida, eu achei que não queria ginecologia, mas hoje eu sei que era isso mesmo que eu tinha que ter feito. Então, apesar de você se sacrificar, você vai ter o retorno muito bom em todos os sentidos. Esse retorno vai ser muito bom.

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