O que faz uma Nutricionista (desenvolvimento de alimentos)? – com Priscila Cantarin

Entrevista 24 – 22/09/2015

22/09/2015 20h00 (GMT -3)

Nutricionista  (desenvolvimento de alimentos)

Meu nome é Priscila, eu sou Nutricionista e atuo na área de desenvolvimento de produtos. Sou de Santo André/SP e atuo na área há 8 anos.

[Escolha profissional]
Eu fiz o Técnico em Nutrição na ETEC Júlio de Mesquita há uns 10 anos e eu sempre gostei muito de cozinhar e trabalhar com alimentos. Eu acho que é uma área muito nobre, porque você consegue incluir as pessoas, você consegue reunir as pessoas em torno de uma refeição, de alguma preparação. E, a comida está sempre relacionada com momentos bons, então a gente trabalha sempre com coisas boas. É gostoso você trabalhar com isso.

Eu já passei por muitos restaurantes, por muitos hospitais, eu já trabalhei em outras áreas da Nutrição e eu percebi que é tudo sempre muito tradicional e sempre feito para um público “normal”, vamos falar assim. Então, eu vi a necessidade de um público que tinha necessidades mais específicas. Então, essa área de desenvolvimento de produtos fez com que, realmente, todas as pessoas fossem incluídas em uma festinha ou em um casamento, onde todo mundo consegue participar sem deixar de lado a questão da saúde e de princípios éticos, enfim.

[Função]
O Nutricionista que está na área de desenvolvimento de alimentos, tem que ter um conhecimento bem amplo da área de Nutrição. Então, ele tem que saber bastante sobre segurança alimentar, sobre higienização de alimentos, ambientes, manipuladores e afins.

A gente tem que saber bastante também sobre administração, planejamento de custos e gastos, administração de pessoal. E, nessa parte de administração de pessoal, entra a questão de degustadores desse produto para a gente conseguir saber se vai ser bem aceito ou não no mercado, e se vai ter uma boa aceitação por bastante tempo também.

[Atividades diárias]
O Nutricionista que trabalha na área de desenvolvimento de alimentos também tem que estar sempre “antenado” com as novas tendências, com os novos rumos da Nutrição.

Claro que isso é uma coisa particular minha, mas eu não gosto de trabalhar com dietas da moda, então muita gente me procura pedindo para fazer alguma coisa com algum suplemento alimentar, ou seguindo alguma dieta de proteína ou de restrição. Então eu não gosto de trabalhar com esse tipo de alimentação.

Mas a gente tem que estar sempre de olho no mercado, de olho no que as pessoas precisam para que isso facilite, dê um conforto para elas, que gostem e que faça bem para a saúde delas.

Acha que esse é o principal de quem trabalha com o desenvolvimento de um produto.

[Formação]
É importante que seja feita a Graduação de Nutrição, que são 4 anos, e no caso, uma especialização, que te dá mais segurança para trabalhar e você consegue aplicar melhor o conhecimento. No meu caso eu também fiz especialização em segurança alimentar.

[Perfil do profissional]
A pessoa não pode ter medo, tem que ter muita paciência e gostar daquilo que faz.

Ela não pode ter medo porquê a gente vai atrás de combinações e métodos culinários, ingredientes que, às vezes, não são tão convencionais. Então a gente tem que testar, tem que pôr a mão na massa, tem que ir atrás até chegar num resultado bacana; tem que ter bastante paciência porque não é na primeira vez que a gente consegue. Pode ser que sim, mas a gente tem que persistir naquele produto, acreditar nele e gostar mesmo de ter esse envolvimento.

[Profissional bem-sucedido]
É importante que a pessoa tenha a graduação, que ela tenha o conhecimento técnico, tenha banco de escola, especialização, cursos na área. Mas, acho que o mais importante é a pessoa gostar daquilo que ela faz, porque isso faz com que a pessoa não desista e que ela continue insistindo nesse ramo.

Claro que a gente não começa por cima, a gente vai caminhando e vai construindo, mas quando a gente gosta do que faz tudo fica bem mais fácil, então acho que é o principal.

[Inspiração profissional]
Eu admiro bastante a Bela Gil pelo conteúdo que ela passa, pelas receitas, pela apresentação, gosto bastante de como ela transmite o conhecimento que ela tem. Mas, eu admiro outras mulheres fora da área Nutrição que, de certa forma, transmitem o empoderamento, elas tem umas questão de auto estima, de ”você pode”,  sabe? Então a Beyoncé é uma pessoa que ela está com esse lado vegano agora, mas ela é uma mulher que inspira, que ela é multitarefas e ela tem uma vida pessoal bem trabalhada, ela é super profissional… então, sim, vou falar que é a Beyoncé que me inspira.

[Análise da trajetória profissional]
Eu diria para eu aproveitar as oportunidades que aparecem. Fazer contato, conversar com as pessoas, “meter as caras” mesmo, sabe? Porque no começo, quando a gente é recém-formado, a gente fica com um pouquinho de receio, tem um “medinho” de enfrentar o mercado de trabalho, porque de certa forma você está sozinho ali, você não é mais um estagiário. Então eu falaria para arriscar mais e seguir em frente que vai dar certo.

[Perspectiva da profissão]
Eu vejo a Nutrição como um mercado sempre em ascensão, cada vez mais o Nutricionista está sendo procurado pelo público em geral, estamos mais conhecidos, apesar de não tanto reconhecidos, mas a gente tem bastante procura. Investir em saúde nunca é demais. A gente entra como prevenção, sai mais barato e é muito mais gostoso você comer do que tomar remédio. Então, eu vejo como um mercado promissor.

[Remuneração]
O piso salarial do Nutricionista gira em torno de R$2 mil, R$2.200 aqui na região de São Paulo, pois outras regiões do Brasil os valores podem variar.

[O profissional na sociedade]
O desenvolvimento de alimentos, mesmo a adaptação de algumas preparações, facilitam a socialização. A gente vê muitas crianças com problemas de alergias e intolerâncias e quando vão em festinhas elas não podem comer nada porque o bolo é de chocolate; vai leite e tem lactose; elas não podem comer o brigadeiro por essa mesma questão; ou mesmo algum salgado, uma bolinha de queijo. Isso quando não são alergias conjuntas, então é lactose, soja, ovo… e aí a criança não come nada. E é complicado porque ela deixa de ir em festinhas, ela não come a merenda da escola, o lanche dela é sempre meio estranho porque não tem aquela carinha. Então ajuda nessa questão de socializar, mesmo. A criança pode comer um brigadeiro que atenda todas as necessidades dela, que é um produto gostoso, é bonito, é parecido com o tradicional. Então o principal do desenvolvimento e da adaptação de produtos é essa questão de você conseguir reunir todo mundo e todo mundo sair bem e com saúde.

[Pontos positivos]
De positivo é que a gente têm uma constante atualização. Isso acontece em qualquer área, mas com o desenvolvimento de produtos, eu percebo que eu tenho que estar ligado em tudo o que acontece a minha volta, ver a necessidade das pessoas. Então eu vejo que o nível de atualização é muito alto, tem que ter um acompanhamento.

É gostoso também ver que você desenvolve um produto e, às vezes, é uma ideia meio louca, é uma coisa que você se pergunta: “será que vai dar certo?”, então tem uma certa questão de auto estima também, por talvez você conseguir fazer um panetone que não tem nada de origem animal, que não tem nenhum ingrediente de origem animal; eu consigo substituir ovo em algum bolo, então tem uma coisa mais pessoal nisso, né?!

[Pontos negativos]
Algumas pessoas não valorizam o trabalho desenvolvido. Então, às vezes, elas querem pagar o mesmo preço de um bolo normal em um bolo que tem toda uma composição modificada, que tem um estudo envolvido, tem um teste envolvido. Então a gente tem muita comparação com produtos tradicionais no caso de produtos adaptados, de novos produtos desenvolvidos. Mas também tem gente que reconhece.

[Indicação de leitura – Confira em: www.goodreads.com/grupoitos ]
Um livro que a gente [Nutricionistas] indica bastante e que falam bastante na graduação também, é “A História Da Alimentação”. Ele é meio grossinho, não dá para ler numa “tacada só”, mas é muito completo porque fala desde os primórdios da alimentação até os dias atuais, da geração fast food e essas novas modernidades da alimentação. Ele está em constante atualização, então é bem atual apesar de ser um livro antigo. E, o outro livro que eu indico também e esse já é totalmente o contrário do outro, é o “Sejamos Todos Feministas”, ele é da Chimamanda, e é o discurso que ela fez para TEDx Euston, em 2012, e até aparece no clipe da Beyoncé, então ele é bem empoderador. Acho que é um livro bem legal e esse sim você já consegue ler numa “tacada só”, e é um livro bem gostoso de ler, de uma leitura fácil e nada que promova ódio aos homens. É uma história legal.

Comente aqui: